domingo, 10 de maio de 2009

Orlando Silva - “Torcedor brigão será banido”

Por Andrea Miramontes
andrea.miramontes@folhauniversal.com.br


Orlando Silva de Jesus Júnior, de 37 anos, atual ministro dos Esportes, sempre gostou da militância política. Ele foi presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) de 1995 a 1997, único negro a ocupar o cargo até hoje, além de presidente de outras organizações estudantis. No Governo, ocupou a Secretaria do Esporte até assumir o ministério, em 2006. Na linha de frente das políticas que defende está a redução da violência nos estádios de futebol. “Queremos segurança, e torcedor brigão tem que ser posto para fora”, afirma.

1 – Qual é sua posição quando afirmam que a obrigatoriedade da carteirinha do torcedor pode inibir a ida aos estádios?
Violência e desconforto impedem o torcedor de ir ao estádio e não a necessidade de identificação. De acordo com o Ibope, 79% deixou de ir por causa da violência e 14% alega desconforto. A carteirinha permite saber quem está lá, e torcedor brigão tem que ser banido. A medida já deu certo em outros países, como Inglaterra.

2 – O Governo quer que ingressos sejam vendidos em lotéricas, mas estes estabelecimentos rejeitam o projeto por medo de violência. Como resolver?
Não há impasse. Cada lotérica poderá optar se quer ou não virar ponto de venda, e ela ganhará se resolver vender. A ideia é multiplicar os pontos e facilitar a vida do torcedor.

3 – Que outras medidas previstas no Estatuto do Torcedor podem amenizar a violência nos estádios?
O projeto torna crime condutas como portar objetos que podem ser usados como arma a caminho do estádio. Hoje, se num ônibus de torcedores encontramos pessoas com tacos de beisebol, não podemos fazer nada. Com a lei, o torcedor poderá ser preso, com pena de 6 meses a 1 ano. Se for réu primário, será banido do estádio. Alterar resultado de jogo e vender ingressos por cambistas também serão crimes.
4 – Como está o programa Segundo Tempo, uma vez que muitas escolas não têm estrutura para receber alunos para aula, quanto menos para a
prática esportiva?
O Segundo Tempo é a inclusão social pelo esporte. No turno em que os alunos não estão em sala, eles praticam esporte. Começamos em 2003 e temos um 1 milhão de crianças beneficiadas. Em escolas que não têm estrutura, usamos outras instalações, como bases militares e centros esportivos. De 2003 a 2008, tivemos mais de 8 mil obras de construção de escolas e de compra de equipamentos esportivos.5 – Em fevereiro, o Comitê Olímpico Internacional estimou os gastos para sediar uma Olimpíada em R$ 29,5 bilhões. Qual o retorno do que é investido em um evento desse porte?
O Brasil é o único país entre as 10 maiores economias do mundo que nunca realizou uma Olimpíada. O retorno é enorme e antecipa investimentos nos locais. Além da promoção da imagem mundial, há o crescimento econômico, que se dá pelo aumento do turismo. A construção civil também cresce e movimenta a economia, uma vez que todas as obras envolvem contratações.

6 – O projeto de organização da Copa do Mundo de 2014 previa que a iniciativa privada arcasse com os custos, mas já se fala de o Governo colocar dinheiro.
As arenas de jogos ainda serão feitas pela iniciativa privada, que poderá explorar
comercialmente esses lugares. Já o Governo fica com a infraestrutura das cidades, como vias e transportes. Já temos um levantamento, mas não dá para falar em valores.

7 – Alguns equipamentos comprados para o Pan-Americano do Rio de Janeiro estão sucateados. O que se perdeu?
Há um registro patrimonial de tudo o que foi comprado. Além das obras, como a reforma do Maracanã, milhares de materiais esportivos são hoje aproveitados pelas confederações. Perdemos uma embarcação de remo e canoagem, que ficou danificada, outras poucas coisas. Lamento, o correto seria não perder nada.

8 – Vimos recentemente o exemplo da atleta olímpica Jade Barbosa que passou a vender camisetas para pagar um tratamento de saúde. Como é possível ajudar os atletas brasileiros?
Temos a Lei Agnelo Piva (determina que 2% do arrecadado pelas loterias federais vá para o esporte), que repassa quase 100 milhões por ano ao Comitê Olímpico. Também mobilizamos as empresas estatais a patrocinar atletas. Temos a lei que prevê desconto no imposto de renda a quem investir na área. Outro ponto é a Bolsa Atleta, que permite que o atleta estudante possa se inscrever. Ele pode receber de R$ 300 a
R$ 2,5 mil mensais, no caso de um atleta olímpico. Em 2008, R$ 42 milhões beneficiaram 3.300 esportistas. O caso da Jade tem que ser investigado, pois a responsabilidade é da confederação a que ela pertence.

9 – O senhor foi o único presidente negro da UNE. Como vê isso?
Acho lamentável que eu tenha sido o único. Isso é um reflexo da sociedade: apenas 2% da população universitária do País é formada por negros. Sou a favor do sistema de cotas.

10 – O senhor superou o escândalo dos cartões corporativos, em que foi registrado o pagamento de uma tapioca com o cartão?
Fiz por engano. E 6 meses antes de sair nos jornais, eu já tinha visto e recolhido aos cofres, mas ninguém fala isso. Até hoje as pessoas têm certeza de que só devolvi depois que saiu na mídia. Devolvi do próprio bolso 100% do que foi gasto: R$ 34 mil. Disso, R$ 26 mil me devolveram no ato, e o resto está em discussão. Mas vou até o fim, pois tenho total controle dos gastos. Superei o episódio, mas me impressionou como a informação é publicada sem qualquer cuidado no Brasil.

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