domingo, 21 de junho de 2009

ENTREVISTAS: Luciano - Irmão de fé

 
 

Por Guilherme Bryan
guilherme.bryan@folhauniversal.com.br


Welson David de Camargo Nascimento nasceu em Pirenópolis, Goiás, em 20 de janeiro de 1973 e pode não ser um nome familiar, mas, como Luciano, ele forma, ao lado do irmão Mirosmar José de Camargo, uma das duplas sertanejas mais famosas e importantes de todos os tempos: Zezé Di Camargo & Luciano. Enquanto em 18 anos de carreira eles lançaram 19 álbuns, que venderam mais de 26 milhões de cópias, o filme sobre a vida deles, “2 Filhos de Francisco”, foi visto por mais de 5,3 milhões de pessoas. Nesta entrevista, Luciano comenta a relação com o irmão, a paixão pelo cinema e o que pensa a respeito da música na internet.

1 – Durante o lançamento de “Zezé di Camargo & Luciano”, de 2008, seu irmão comentou que os últimos anos foram os mais difíceis da carreira dele, em função de um cisto congênito numa das cordas vocais. Foi tudo realmente mais difícil para o trabalho de vocês?
O Zezé ficou 1 ano com problema e, como a agenda estava repleta de shows, não quis parar para fazer uma cirurgia. Pensou primeiro na equipe, que não poderia ficar sem trabalhar. Mas não se sabia se ele voltaria da cirurgia cantando como ele sempre cantou. Graças a Deus, ele tirou de letra.

2 – No que esse novo CD se diferencia dos anteriores?
Esse CD é mais pessoal, devido ao Zezé ter vencido esse obstáculo. Mas todo trabalho é um marco, ainda mais para quem tem 18 anos de carreira com milhões de discos vendidos. Podem até contestar o nosso talento e não gostar do nosso trabalho – tenho certeza que há talentos muito maiores e melhores –, mas não se pode contestar a história de sucesso de Zezé di Camargo & Luciano, que nunca se prostituiu, mudando de estilo ou cantando diferente para seguir uma onda.

3 – Os rodeios são lugares frequentes de apresentações da dupla. O que você acha das críticas feitas a eles por organizações de defesa dos animais?
No Brasil, são mais de 2 mil rodeios e existem festas piratas que não são nem cadastradas. Agora, nunca participei de festa que não tivesse seriedade com os animais. Pergunte para um boi se ele quer ser de rodeio, que se apresenta por 8 segundos e vai comer o melhor feno, ou ir para um pasto, engordar durante 2 anos e parar na panela do cidadão? Se o boi respondesse, com certeza ele
diria: “Quero pular no rodeio.”

4 – O que você pensa a respeito do download de músicas na internet?
O caminho é deixar de existir o CD e passar tudo para a internet. Hoje em dia, qualquer celular tem MP3 e se baixa muito fácil uma música. Mas há uma cultura de que nada se paga na internet, o que atrapalha, por exemplo, o recolhimento do imposto de renda.
Se você quer baixar uma música, tem que pagar por ela, porque há um custo.

5 – Em 2002, vocês se envolveram com a campanha do então candidato à presidência, Luiz Inácio Lula da Silva. Isso voltaria a acontecer?
Devido a tantas coisas que aconteceram envolvendo campanhas políticas, a melhor coisa foi proibir esses shows. Eu não voltaria a fazê-los e confesso que, quando fizemos, o PT pagava a produção, mas a gente não tinha cachê, o que era justo, porque fazíamos por ideologia.

6 – Você voltaria a votar no presidente Lula?
Essa é uma pergunta fora de cogitação, porque não existe um terceiro mandato e, se houvesse, viraria avacalhação. O governo Lula é bom e sério. Ele quer muito acertar e mostra que está acertando. Mas muitas pessoas que estão junto com ele no poder já mostraram que são farinha do mesmo saco daquelas que detonaram o Brasil.

7 – Qual é a sua opinião a respeito do trato da imprensa com a música sertaneja?
Sempre tive na imprensa grandes amigos e nunca fomos sacaneados. Lógico que houve preconceito com a música sertaneja, assim como com o rock, mas cada um tem o direito de manifestar o seu gosto. Agora, quando uma pessoa é destratada, eu fico zangado. Também são raras as reportagens que participei mostrando minha vida pessoal. Até mesmo meu casamento não foi liberado, porque casei com uma pessoa que não é do ramo, nunca foi e não quer ser.

8 – Por que você critica o rótulo “sertanejo universitário”?
Minha preocupação sempre foi a de que, quando a imprensa intitula “sertanejo universitário”, pode virar algo passageiro. Também temia que aqueles artistas se sentissem na obrigação de só fazer regravações de nossas canções, apenas com uma levada diferente da nossa, e não compor músicas inéditas.

9 – Você já pensou em fazer carreira solo?
Se tivesse que gravar algo sozinho, eu pararia a carreira, pois Zezé foi quem fez com que tudo se desenvolvesse e é essencial na vida e carreira da nossa família. Não adiantaria meu pai ter o sonho, se não houvesse talento. Depois de “2 Filhos de Francisco”, apareceram vários pais com filhos nos nossos shows, dizendo: “Canta aí meu filho.” O menino canta desafinado para caramba e o pai continua insistindo.

10 – Depois do filme você pensou em desenvolver outros projetos como ator ou roteirista?
Ator eu jamais serei, porque sou muito tímido e nasci para beijar só a boca da minha mulher. Dirigir é impossível. Eu não sei nem ligar uma câmera (risos). Mas se tiver a oportunidade de produzir com alguém ou dar uma força para chegar aos apoiadores, farei com o maior prazer. Com relação a “2 Filhos de Francisco”, agradeço demais a Breno Silveira (diretor) e a Patrícia Andrade e Carolina Kotscho (roteiristas) por terem deixado eu me envolver em todos os detalhes do filme, como a liberdade de tirar alguma cena e de dar opinião sobre o elenco, oportunidade rara, ainda mais para quem ama o cinema, como eu, que defendo principalmente o cinema brasileiro.

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