Por Inahiá Castro inahia.castro@folhauniversal.com.br Com raízes no circo, na dança de rua e na capoeira, aos 16 anos de idade ele começou a ter contato com o balé clássico, mas recuperou o tempo perdido e conquistou o planeta. Hoje, aos 28 anos, o carioca Thiago Soares ocupa o posto de primeiro-bailarino do Royal Ballet de Londres (Inglaterra), uma das mais importantes companhias de dança do mundo, ao lado da noiva e partner, a argentina Marianela Nuñez, também primeira-bailarina do Royal. Vencedor de vários prêmios internacionais, foi com a medalha de ouro no Concurso Internacional de Ballet do Teatro Bolshoi, em 2001, na Rússia, que os holofotes do mundo todo se voltaram para ele. Nesta entrevista exclusiva, ele relembra a trajetória que o levou ao topo da dança mundial. 1 – Você começou no balé clássico aos 16 anos, o que é considerado tarde. Como isso aconteceu? Eu fazia dança de rua, capoeira, circo. Sempre gostei de acrobacia, artes marciais, esportes, alongamentos, exercícios e saltos. Fazia parte de um grupo de dança de rua e o coreógrafo me incentivou a procurar o Centro de Dança Rio, que fica no bairro do Méier. A escola estava precisando de bailarinos masculinos. Fiz um teste, eles me adoraram, me deram uma bolsa e ficaram comigo. 2 – Você pensava em ser dançarino profissional? Teve apoio da família? No começo eu não pensava em viver da dança, mas a coisa foi indo. Em princípio, minha família não me apoiou muito, até por falta de conhecimento. Eles nunca tiveram acesso à dança e ao teatro. Eles achavam que aquilo era uma fase e que talvez fosse passar. Até que notaram o grau de seriedade que tem o estudo da dança e para tentar ser um profissional nessa área. Então, eles começaram a me apoiar na medida do possível. 3 – E como foi para o balé clássico? Minha trajetória é longa, apesar de ter acontecido em pouco tempo. No Centro de Dança Rio, eu tinha contato com todos os estilos, assim, conheci o balé clássico e comecei a me interessar muito. Tive professores particulares e passei a participar de competições dentro e fora do Brasil, representando o País. 4 – Como começou a sua carreira internacional? Em 2001, eu competi no Concurso Internacional de Ballet do Teatro Bolshoi, na Rússia, que é o mais importante do mundo, e ganhei a medalha de ouro. Nunca um brasileiro havia recebido esse prêmio. Nessa época, eu já fazia parte do corpo de balé do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Já vivia da dança; era funcionário público (risos). Foi, então, que todas as portas se abriram para mim. Tive a oportunidade de ficar na Rússia, a convite do Balé Kirov. Fiquei 8 meses por lá. O Kirov fica em São Petesburgo, mas eu sempre ia a Moscou, onde participava como protagonista em uma companhia um pouco menor, na qual fiquei um tempo fazendo turnês por lugares como a Sibéria. Depois de 7 meses, voltei ao Brasil para apresentar Romeu e Julieta, do coreógrafo Vladimir Vasiliev, grande estrela do Bolshoi, e comecei a sentir vontade de ir para o centro da Europa. Participei de uma audição no Royal e fui aprovado. 5 – Daí a se tornar primeiro-bailarino foi muito difícil?Cheguei com um contrato de corifeu, que estava muito abaixo da posição que eu normalmente ocupava como protagonista. Mas eu aceitei o desafio porque queria muito fazer parte desta proposta de unir teatro e dança que o Royal tem. Depois de 4 anos, passei a ser primeiro-bailarino (a companhia conta com sete homens nesta posição). O caminho é praticamente o mesmo para todos: alguém se machuca e você substitui ou você está se revezando com alguém e entra para fazer o papel principal. Meus primeiros papéis como protagonista foram o príncipe, da Bela Adormecida, e Eugene Onegin (personagem do escritor Alexander Pushkin, da literatura clássica russa). Eles gostaram muito e comecei a ser indicado para ser a figura principal. 6 – Quais foram as maiores dificuldades que você enfrentou ao se lançar sozinho em lugares como a Rússia, por exemplo? Eu não falava nem inglês bem, muito menos russo. Mas a linguagem da dança é muito fácil de entender. Eu estava obcecado com o que queria alcançar. Estava muito deslumbrado por estar lá, em meio àqueles astros todos, e não me preocupei muito com choque cultural. O mais importante é que eu consegui ser esponja. Cheguei nos lugares e suguei ao máximo. Consegui tirar o melhor proveito de cada lugar por onde passei. Eu estava lá para aprender. Eles eram as estrelas. Ninguém ficava dando sorrisinho para mim nos corredores. Tive que correr atrás. 7 – Como foi a turnê “Thiago Soares e amigos”, que você apresentou pelo Brasil em 2008? Foi um convite, e eu decidi levar coisas que ainda não haviam sido vistas no País. O Brasil costuma impor alguns limites, como que bailarino pequeno e bailarina grande não têm futuro. Eu levei primeiros-bailarinos de vários lugares do mundo, com essas características, para provar o contrário. Tive problemas com a produção dos espetáculos, mas foi uma experiência incrível. Estou montando um novo projeto para levar ao Brasil, provavelmente, em março de 2010. Tudo vai depender dos patrocínios. 8 – Você está estrelando “Lago dos Cisnes” no cinema. O que isso representa? Isso é um golaço. Aqui, (na Inglaterra) é comum as coreografias de balé irem para o cinema, mas esta é a primeira vez que um brasileiro participa de uma versão que irá para toda a Europa. É uma maravilha atingir o público de cinema. Estou tentando uma parceria para levar o filme ao Brasil. De qualquer forma, o DVD será lançado por aí em setembro. Estou muito contente com isso. 9 – Como foi a experiência de desfilar na comissão de frente da escola de samba Portela, no carnaval? Fui convidado a fazer o Rei Arthur, acompanhado de 12 bailarinos que faziam os cavaleiros da távola redonda. Foi uma experiência indescritível. Apesar de ser carioca, eu nunca havia participado de um desfile. Me impressionou a seriedade daquilo tudo. 10 – Que dicas você dá a quem está começando e pretende se profissionalizar na dança? É bom que se saiba que não é uma carreira fácil, mas se você realmente ama o que faz e tem certeza disso, trabalhe duro e seja honesto com a carreira que o retorno é possível. Na dança, você sofre, sente dor, mas quando está no palco, é como um milagre. É mesmo uma dádiva de Deus. |
domingo, 7 de junho de 2009
ENTREVISTAS: No topo da dança - THIAGO SOARES
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